A primeira transmissão no país foi realizada em meio a suspenses, tensões e grandes expectativas
Com altas doses de improviso, inexperiência e tensão, a TV brasileira nasceu há exatos 70 anos em meio a casos pitorescos, curiosidades, contratempos técnicos e histórias que, hoje, ganham o sabor do folclore que habita certos acontecimentos e das recordações de quem presenciou esse momento definitivo rumo a uma nova era no país. Em 18 de setembro de 1950, uma garotinha de 6 anos anunciou a fantástica novidade: “Boa noite. Está no ar a televisão do Brasil.”
“O Assis Chateaubriand teve a ideia de colocar um cocar na minha cabeça. Me colocaram na TV, e essa frase ficou marcada. Eu era muito pequena, não tinha noção da grandiosidade do ato”, conta a belo-horizontina Sonia Dorce, que fez sucesso como atriz e cantora mirim naqueles tempos em São Paulo, onde vive desde muito pequena.
Porém, até a programação inaugural da então recém-criada TV Tupi ir ao ar naquela noite de setembro, muita coisa aconteceu e por pouco a data não entrou para a história da comunicação brasileira como o dia em que tentou-se – em vão – fazer TV no Brasil. Em 1948, o empresário e jornalista Assis Chateaubriand, em viagem pelos Estados Unidos, ficou fascinado com aquele aparelhinho que transmitia imagens e sons e já se popularizava pelos lados de lá. Visionário e aventureiro, ele não titubeou: iria levar a TV para o Brasil.
Chateaubriand voltou ao Brasil e colocou em prática sua ideia: negociou a compra de equipamentos com a RCA (Radio Corporation of America) e, de olho em investidores no Brasil, vendeu cotas de anúncios para alguns patrocinadores, entre eles a Sul América Seguros, o Guaraná Antarctica, o Moinho Santista e o Grupo Pignatari, a fim de viabilizar o empreendimento.
Mas 18 de setembro foi só o primeiro passo. Em 1951, a indústria brasileira começou a fabricar aparelhos de TV, que já somavam 6.000 em São Paulo e no Rio no fim daquele ano. Hoje, após tantas transformações estéticas e tecnológicas na forma de se fazer televisão, estima-se que 97% dos domicílios do país (aproximadamente 71 milhões de imóveis, ou cerca de 200 milhões de telespectadores) tenham, pelo menos, um aparelho. Impossível pensar sobre esse fenômeno sem voltar àquele 18 de setembro de 1950, um dos dias mais importantes da história brasileira no século XX.
FONTE: O Tempo.
EDIÇÃO: Eduardo Machado.